sábado, 19 de dezembro de 2009

"A PAZ E A TRANQUILIDADE DO MAR"

 




Mar do Sul da China

 
 
"We came out of the kinabatangan river and went slowly into the sea,

I had forgotten the PEACE and REST of the sea,

I had forgotten the size and colours of the descending sun seen in a great open space,

I had forgotten the depth and weight of the black cloud balls that the sun would leave when it fell,

I had forgotten the sound of the open sea which is so different from the hurrying of rivers and rapids    and the soft sound of the thunder, which is heard in the distance and has no urgency to come nearer  and is only the pleasant beat of a distant gong,

I had forgotten the brilliance of lightning which is seen without alarm,

And  I  had forgotten the smell of the sea, which is the cleanest and finest of all smells!"



Estas são as palavras escritas nas páginas do livro "Land Below the Wind", pela escritora Agnes keith quand descreve as suas aventuras, quando partia em expedição, percorrendo a pé a Selva do Bornéo, enfrentando os térriveis perigos daquele mundo impenetràvel e onde viveu por mais de 20 anos.

 Passados mais de 70 anos, seguí os passos da escritora, numa aventura de cerca de um mês, atravessando o Sabah-Bornéo. Não a pé, mas de carro, enfrentei a selva, fui mordida pelos insectos, caí nas pedras no interior das florestas,mas não corri perigo, vi de perto a montanha sagrada, mas não vi os espíritos,  vi os macacos narigudos e vi pássaros de todas as cores, desci o rio comprido num barco seguro, mas não vi crocodilos e cheguei também perto do mar. Foi aí que senti as mesmas emoções, apesar da distância no tempo.

Vi a PAZ e a TRANQUILIDADE do mar, nada o mudou,
Vi as cores e a luz do sol que tudo ilumina quando entra dentro do mar,
Senti o cheiro da água salgada que me entrava nas narinas e me arrepiava a pele,
Ouvi os sons daquelas ondas ondulantes que chegavam à praia e me beijavam os pés,
Vi uma gaivota que voava na crista das ondas
Vi as nuvens mudarem de cor, do amarelo ao laranja, do vermelho incandescente ao violeta, anunciando o crepúsculo
E vi também as duas árvores frondosas e sós, testemunhos das vidas passadas e da historia  daquele lugar!



Sentei-me sózinha na areia a ver o por-do-sol  e ali fiquei a pensar......que realmente é preciso sentir a solidão para se ter consciência da nossa existência.... o Sol esse mergulhava impávido e sereno, indiferente aos meus pensamentos, no fundo do mar e a  cor púrpura do céu anunciava o crepúsculo, que enchia a minha alma, naquele fim de tarde, naquela praia vazia...... como Agnes keith disse:

"It takes time and solitude to EXIST and we have those in BORNÉO"


Ir ao Bornéo é fazer uma viagem de auto-conhecimento.....e

é bom regressar a casa, mas  fica sempre aquela enorme ânsia de voltar!

 








sábado, 12 de dezembro de 2009

KINABATANGAN- "O RIO DE SONHO E DE SILÊNCIO"

     

"Este rio que na noite se oferece
 Tonto de aromas e de LUZ
 Este rio de SONHO e  de SILÊNCIO
 Presságio da minha partida inevitável!"





      



- SUNGAI KINABATANGAN - é o rio mais longo do Sabah, no norte  do BORNÉO, considerado "Gift to Earth".

Lodoso, da cor do barro, mas sereno com os seus 56o kms, da nascente até ao mar Sulu, onde vai desaguar.Por ironia do destino, as florestas de óleo de palma existentes ao longo das margens constituem uma reserva natural e um Santuário de VIDA SELVAGEM, onde vivem e profiferam muitas espécies de plantas, raras espécies de aves e peixes, repteis e mamários, numa diversidade inimaginàvel, um mundo verdejante e surreal!

Era ainda noite quando acordei e pé ante pé, camera ao pescoço, fui até à beira do rio, queria estar presente no momento do sol despontar e espalhar seus raios doirados sobre o horizonte....veio à hora marcada, rompeu devagar por entre a floresta ainda adormecida, mas logo cresceu e iluminou com a sua luz intensa as águas barrentas do rio. Um barco deslizava à minha frente, sózinho, só eu e o barqueiro  vimos aquele  amanhecer, entre o sonho e o silêncio do cenário da selva!


Mas logo se juntaram mais espectadores e partimos todos juntos para um passeio matinal, rio abaixo, em busca do desconhecido.
Seguíamos lentamente......olhando as margens, na ânsia de vislumbrar um gesto, um vulto, um estremecer das folhas, um grito que nos dissesse..."estamos aqui".....apenas olhávamos o vazio e sentíamos os olhos de  alguém que brilhava em cima de nós!




Os macacos "PROBISCIS" -narigudos- são vistos no topo das ávores mais altas, em grupos de família, mais além um orangotango selvagem baloiçava-se sózinho, num ramo.....




Para os amantes da natureza esta é uma oportunidade incrível,  para os fotógrafos de paisagem natural esta é uma festa, para aqueles que procuram as aves raras este é o lugar certo...à nossa frente uma garça branca poisa no mangue,

logo mais além outra se equilibra num tronco seco, no meio do rio.
São estáticas, elegantes e serenas, os modelos perfeitos para o furtivo fotógrafo......


Prosseguíamos lentamente, em zigue-zag, por entre a folhagem e raízes do mangue fotografando, extasiados, os fectos, as folhas, as flores,


Durante a estação  das chuvas, de  Outubro a Março, as inundações no rio são devastadoras, pondo em risco a vida das plantas e dos animais  que para aqui vieram refugiados, fugindo do seu habitat natural, a selva profunda.......................

As populações que habitam as pequenas casas ao longo das margens do rio têm de ser evacuadas para lugar seguro
O sorriso do barqueiro do SABAH











Navegar neste rio é mergulhar no mais fundo de si mesmo, ouvir  o canto dos pássaros, escutar os sons vindos da floresta, adivinhar os segredos que o verdejante mangue encerra é ouvir esta mensagem
"aqui as palavras se  calam e o SILÈNCIO se faz  EPIFÂNIA" (Frei Beto -Mística e Espiritualidade)



É  um privilégio fazer parte deste ecossistema, mesmo que só por um dia e reter na memória fotográfica imagens deste mundo surreal, que deve ser preservado, por todos nós, a todo o custo!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

KINABALU - "A MONTANHA SAGRADA" DO BORNÉO

                         
......."Aquilo a que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade, na consciência de uma finalidade, numa orientação positiva, convencida e decidida do espírito, ou seja na PAZ da alma!" (Thomas Mann)

Seguimos viagem pelo interior do Sabah, até à base do majestoso Monte Kinabalu, a mais alta montanha  do sudeste Asiático - 4,095m de altura -O Parque Natural Kinabalu é um paraiso botânico, classificado pela UNESCO como "World Heritage Site".

Visitámos o Parque, debaixo duma chuva miudinha que nos ensopava os ossos, mas refrescava alma, envolvidos na magia daquela floresta onde residiam arvores gigantescas, castanheiros, carvalhos, árvores da borracha, loureiros e de todo o lado espreitavam vaidosas as exoticas flores tropicais, os fectos enormes, frangipani, as orquídeas, mais de 800 espécies diferentes 

 ....e por fim a gigantesca "RAFLESIA", a famosa maior flor do mundo, que pode atingir 1 metro de diâmetro quando tem as pétalas todas abertas.



Pequenos riachos de água fresca e cristalina escorriam pelas pedras coloridas de verdete, sussurrando em uníssono um múrmurio, falando com aquelas árvores altivas e indiferentes.....o mundo divino da natureza em toda a sua força, estava a nossos pés!

Dali seguimos depois para o noso Lodge, situado em pleno Parque e com a fabulosa vista sobre a Montanha Sagrada - O MONTE KINABALU -


Já as cristas estavam cobertas pelas nuvens de tom rosáceo, o manto do crepúsculo, encobrindo os picos da Montanha e um véu branco e espesso vestia as vertentes até à base.

O silêncio do início da noite era profundo, apenas cortado pelos clicks das cameras fotográficas e os olhos mergulhavam maquele anoitecer mágico que convidada à meditação!

Mas a manhã do dia seguinte acordou sorridente e logo ao romper do dia apressei-me a descer até ao fundo do vale. Depois parei, olhei e visionei aquela estátua enorme de pedra esculpida pela mão da natureza e lá no topo dos seus 4,095 metros poisava uma coroa de granito cujas flechas apontavam para um céu límpido e dum azul profundo. Fiquei petrificada, era uma visão irreal e mística e a felicidade dentro de mim era imensa!!!


Apesar das dificuldades, muita gente de todas as idades se atreve a escalar  -  - GUNUNG KINABALU - 
a Montanha Sagrada, onde reinam os espíritos, vão à procura da felicidade e da PAZ DA ALMA!!!

                                        
Eu fiquei ali por uns momentos de reflexão, isolada no meu ser e, apesar de físicamente estar distante do topo, senti aquela energia envolvente e a voz da montanha que entrava como um mantra bem fundo da minha lama!




www.myartspace.com/HAFONSO

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ILHA DO BORNEO - "A TERRA ABAIXO DO VENTO"

Quando um dia, há muitos anos, pensei em visitar a Ilha do Bornéo, à procura dos "caçadores de cabeças", para viver uma aventura estilo Spielberg, tal Indiana Jones, estava longe de imaginar que um dia iria descobrir,  naquele lugar distante, um mundo fantástico e maravilhoso!
O pequeno avião da AIR ASIA aterrou suavemente na pista de Sandakan, capital do Sabah, uma das duas provincias do Bornéo, pertencentes à MALÁSIA. Ao fazer a pesquisa do País na NET,  em preparação da viagem, descobri os livros escritos por Agnes keith, a escritora americana que viveu em Sandakan cerca de 20 anos, de 1934 a 1952, ao lado de seu marido Harry, um inglês ao serviço de sua Magestade, quando ainda Império Britânico governava os destinos do Bornéo. Harry Keith era então o Director da Agricultura e Conservador do Serviço das Florestas naquela Ilha.
Ainda em casa, antes da partida para a minha aventura, comecei a apaixonar-me pelo Bornéo ao ler "LAND BELOW THE WIND", o primeiro livro da trilogia publicada por Agnes keith, onde ela descreve com amor e devoçao toda a história da sua vida, desde as aventuras que viveu quando acompanhava seu marido nas expedições pela selva.
Percorriam a pé a selva impenetrável, desciam os rios infestados de crocodilos em canoas artesanais, caía doente com a  malária, as pernas ensanguentadas das sanguessugas, o corpo ensopado pelas chuvas torrenciais, caminhando dia e noite até desfalecer.
Mas a selva é assim, exótica, bela e irresistívelmente atraente. Agnes apaixonou-se perdidamente por aquele lugar. Em 1942 foi feita prisioneira dos Japoneses, durante a 2ª guera mundial, foi levada com o filho de 2 anos e o marido para uma pequena ilha perto de Sandakan. Juntos sofreram os maus tratos, o trabalho forçado, a fome, as doenças, as humilhações da guerra e saíram sobreviventes, regressando por uns tempos aos Estados Unidos. Em 1945 escreveu o seu segundo livro - Regressámos Os Três (We came three) onde testemunha todos os horrores sofridos e a vida que ela e  os outros prisioneiros de guerra viveram.
Mas o irresistível MISTÉRIO da selva chamava-a e em 1947 regressou ao Bornéo para ali permanecer por mais alguns anos, dedicando-se a trabahos humanitários, ajudando os sobreviventes da guerra na reconstruçao da vida e da terra do Sabah. Em 1951 escreve o terceiro livro da trilogia "Homem Branco Regressa" (White Man Returns), a sua biografia no Borneo do pós-guerra.Em 1952 os Keith deixaram finalmente o BORNÉO.


"NEWLANDS" -é a casa onde viveram os Keith e que, deteriorada e abandonada por alguns anos, foi finalmente reconstruida pelo Governo da Malásia e tornada Museu Nacional e "heritage site" de Sandakan, em 2004. É um modelo de arquitectura colonial, uma jóia rara na Ilha.

   Entrei de mansinho pelos jardins, onde reinava o silêncio e um cheiro perfumado envolvia o velho casarão de madeira clara e janelas verdes, escondido na penumbra. Entrei pela porta lateral, dentro repirava-se tranquilidade em todas as divisões, nos móveis, nos objectos de arte. em toda a  decoração, e nas fotografias antigas estava patente o cunho e o coração daquela que eternizou a beleza e o mistério do Borneo!

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AGNES e HARRY KEITH

Subi descalça os degraus de madeira envernizada e ouvi aquela voz.....

...."When the furniture had limped into the new house, when the dog had found a new divan and the orangutan the new godown, I stood looking down the Sandakan Bay, from the hilltop, which now was ours...It was morning and the water of the Bay was motionless and flat and chromo blue as on a picture postal card, but when the rain comes, Sandakan Harbor has vanished and our house drifts in a cloud of rain....."



"...The book-room
...there is a mental energy in this room...."

"......the bed-room is the next place of importance. We made our bed and we certainly like to lie in it. made of heavy Borneo timber and constructed after a picture we drew...."


".....I soon learned that it requires five servants to take care of my husband and myself, two murut house boyes, two chinese amahs, a dozen semi-siamese cats, one dog, two gibbon apes, an orangutan, my husband and myself...

."ARUSAP -   "the murut houseboy - Borneo!s gift to us..."Muruts e Dusuns são aborígenes do Norte do Bornéo, enquanto os Dusuns se dedicam à cultura dos         campos e agricultura, os Muruts dedicam-se à caça e eram os antigamente chamados "caçadores de cabeças"


AH YIN - The jewel of Orient -
"........our number one AMAH - is known to us as a pearl without a price....."
O BORNÉO de hoje é ainda um mundo de aventuras decorado pela beleza da natureza, mas aperfeiçoado e abençoado pela mão dos homens.  No - "SEPILOK ORANGUTAN REABILITATION CENTRE" - é fantástico o trabalho incansàvel dos tratadores dos animais, recuperam os doentes, recolhem os órfãos abandonados na floresta ou feitos priosioneiros e mal tratados e reabilitam toda a espécie, fomos visitá-los no seu habitat.
"Orangutan"
"Gibbon-ape"
Os animais vêm beber água ao chamamento dos tratadores, saltitando pelas cordas de baloiço e dando hurros e gritos de contentes, balouçam-se nos ramos todos esticados, tais acrobatas natos, ao som da valsa........

Prosseguimos para a "RAINFOREST DISCOVERY CENTRE", subimos as canópias, torres altissimas, até ao topo da copa das árvores, dali se aprecia a verdadeira importância da conservação das florestas e sua biodiversidade, vislumbrei o verde intenso da SELVA, ouvi os pássaros cantar, cortando o profundo silêncio................

Atravessei pontes suspensas, feitas de redes e cordas, balançando no espaço, ultrapassei os meus receios das alturas, fotografei e rendi-me àquele mundo irreal!........
Voltei à base e extasiei-me com as pequenas cascatas de água fresca que me sussuravam ao ouvido.........."adventure for me has three stages - before starting, when my dreams are bound by nothing, there is  a second interval, when footsore and insect bitten aching backed and broken spirit, I wish I had never came and then comes the third interval - and in this interval I know that such adventures are the -CAVIAR OF MY EXISTENCE - compared to other events in my life, in this interval the fantastic, the unreal, the magnificent and the unimaginable, which might have occurred only to other people, are occurring really to me......" (Agnes keith)


Quis experimentar todas essas sensações no corpo e ouvir a voz do meu espirito e fui caminhar no trilho da densa floresta, escorregando num chão molhado das chuvas torrenciais, enterrando meus pés na  lama, agarrando-me aos ramos e aos troncos das árvores para subir, fugindo dos insectos, sacudindo as sanguessugas que se entranhavam na pele, tropeçando nas pedras na descida, sangrando dos joelhos, mas feliz por ter vivido aquela pequena aventura!
Ao longo da caminhada ouvia sempre a mesma voz que me guiava o caminho ".......I don!t want to be a parasite on the country I want to talk the language and know the natives and laugh with their jokes and smile with their joys. I want to come down its rivers and go through its jungles. I want the mud and the rain and the leeches and disconforts and everything that this trip is ....except sometimes my body doesn!t do it very well. But even if my body doesn!t do it well I will beat it in the end with MY SPIRITY!....."

Era assim que Agnes keith encarava a sua vida no Bornéo sofrendo na pele os perigos da selva, vencendo os seus medos, desafiando as suas forças até cair com o cansaço e ser vitima da doença, para finalmente entender o MISTÉRIO DAS COISAS que a  rodeavam, libertar o seu espírito e por fim encontrar-se a si própria

Deixàmos a selva e continuámos a aventura na travessia do Sabah, em direcção do Rio mais longo do Bornéo, o KINABATANGAN. Eu continuava na minha descoberta, em busca do Mistério da Coisas!


"O MISTÉRIO DAS COISAS"

O mistério das coisas onde está ele?
Onde está ele que não aparece?
Pelo menos a mostrar-nos que é o MISTÉRIO
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso
No que os  homens pensam delas,
rio como um regato que soa fresco numa pedra!

                              (Fernando Pessoa)