"O CORAÇÃO FLUTUANTE DO CAMBOJA"
"On my journey up the river and across de lake I read.......
"THE TRAVELS IN INDOCHINE" - of Henry Mouhot, a french naturalist, who was the first european to give a detailed description of the ruins of ANGKOR "- (Somerset Maugham - The gentleman in the Parlour 1929)
Somerset Maugham foi o meu ídolo-escritor na fase da minha adolescencia,
li-o e reli-o, ainda em África, onde nasci e onde sonhava com as rotas do mítico Oriente e com as viagens pelo mundo Asiático, genialmente descritas nas suas novelas e romances. Eu sabia que um dia iria viver aquele sonho e mergulhar naquelas aventuras... e esse dia chegou!
Ainda era cedo, mas o sol já escaldava e Siem Riep acordava....Meti-me a caminho só com o meu chauffeur "kmer", no seu pequeno tuk-tuk escrupulosamente limpo e arranjado. Á porta do meu hotel, á hora marcada, já ele me esperava com um enorme "bonjours Madame" e esfregava e polía mais uma vez os latões dourados que resplandecíam e enfeitavam o veículo.....digno duma novela de Maugham!
Eu balançava no banco de trás ao ritmo do asfalto empedrado, na unica e estreita avenida que liga a cidade ao lago TONLE SAP, para onde me dirigia. O som estridente da buzina cortava o silencio da paisagem rural, onde os bois avançavam numa caminhada lenta e pachorrenta à frente dos pastores que os conduziam ao trabalho.
A viagem, desengonçada mas divertida, não afastava os meus pensamentos; sentia-me a "heroína" do meu escritor favorito e inspirador, que há já muitas décadas atrás havia percorrido aquela mesma rota, atravessando aquele mesmo lago que eu estava prestes a encontrar, vindo pelo Rio Mekong para Siem Reap a fim de visitar e descobrir os belos Templos de ANGKOR.
Também eu havia havía visitado no dia anterior uma das maravilhas do Mundo - ANGKOR-WAT - e o cenário místico e a magnificência da arte "KMER" ,considerada patrimonio Mundial pela UNESCO, ainda me absorvía e envolvia naquela onda de sonho que me acompanhava na jornada.......
De onde a onde surgiam grandes mansões à beira da estrada, reminiscências da ocupação francesa, quando o país era ainda INDOCHINA (antes das guerras que devastaram o país, dizimaram populações inteiras e destruiram muito das origens e cultura do povo KMER ). De arquitectura euro-asiática era impressionante a sua imponência em contraste com os casebres humildes das gentes que habitam aquela região.
Os campos estavam alagados das chuvas torrenciais que tinham caído nos ultimos meses, era o final da época das monções, mas a chuva teimava em não parar. Vi os bufalos de água mergulhados até ao pescoço, regalados nas "piscinas naturais" ; aproximei-me de mansinho e caminhei devagar.......
Naqueles olhos doces fixei o meu olhar...
era corpulento e negro,
mas não me meteu medo.
Apontei a minh camara
às orelhas enormes e abertas
áqueles chifres duros e curvos
e ele ali ficou, estático, álerta!
Seria o meu modelo certo,
naquele canto do mundo deserto?
Ali fiquei a pasmar,
Até o meu guia me chamar.......
Saímos da estrada e enfiámos por um estreito trilho de terra batida e encharcada, cercado pela floresta.
Os solavancos fazíam-me pular no assento e bater com a cabeça no tecto, algumas crianças corriam assustadas e atravessavam-se à nossa frente, ouviam-se latidos dos cães e os gritos da bicharada, os macacos pulavam nas arvores, contentes pela nossa passagem.......
Chegámos à beira do lago, onde os barqueiros nos esperavam impacientes. Embora seja este um destino turistico obrigatório, não vi ninguém de perfil ocidental. Iniciámos a travessia. Alguns pescadores deslizávam em silêncio com as suas delicadas canoas, apoiados numa vara comprida que usavam para avançar como remos, apenas uma vegetação cobria o lago, como um tapete verde de plantas aquáticas que flutuava.
O LAGO TONLE SAP NÃO É APENAS UM LAGO, MAS UM MODO DE VIDA!
Mais de um milhão de cambojanos dependem dos recursos naturais deste lago, na época das chuvas o lago estende-se a todo o país e liga-se ao mítico RIO MEKONG proveniente do Tibete, tornando-se no maior lago de água doce do Sudeste Asiático, alastrando as suas águas calmas por 12.000km2.
O LAGO TONLE SAP faz parte da famosa e rica Reserva da Biosfera, sendo considerado um SANTUÁRIO, onde habitam mais de 100 espécies de pássaros e peixes, crocodilos, tartarugas, macacos que se espalham pela longa e inundada floresta de "mangrove" .
Vivendo em harmonia com o ecosistema, as gentes que habitam as aldeias flutuantes vivem em casas da madeira, construídas em palafitas, mantendo uma economia e um modo de vida interligada com a ecologia do lago, a vida selvagem e o ciclo de subida e descida das águas.
O lago situado a apenas 15kms ao sul de Siem Reap é ligado à capital, Phnom Penh, por barco diário.
Avisto a primeira casa, uma enorme estrutura de madeira em linhas orientais, sede do governo local, possivelmente, onde sobressaem os telhados vermelhos de bicos revirados contrastando com o azul intenso do céu e do lago. Uma árvore gigante semi-submersa, escondendo a primeira casa, deixa apenas de fora a copa frondosa, como o guardião atento da aldeia flutuante que se avizinha.
Fotografar é mesmo uma arte! Parabéns pela bela postagem!
ResponderEliminarBeijos
Such wonderful photos of a magic land, KP
ResponderEliminarOlá amiga. Não sei se consegui enviar comentário nessa postagem. Acusou erro e por isso estou digitando novamente. Essa viagem deve ter sido maravilhosa e suas fotos são perfeitas. Beijos.
ResponderEliminarNesta Primavera venho deixar um beijinho e poesia
ResponderEliminarPRIMAVERA
Amor...
Florir...
Sorrir...
E...
Na Primavera...
As flores...
Florescem...
Sorriem...
E...
Cativam o Amor...
E nós...
Deixamo-nos
Embalar...
E continuamos...
A Amar!...
LILI LARANJO
Excelente reportagem, na forma e no conteúdo, resultando de dom, talento e experiência. Parabéns, Helena.
ResponderEliminarOBRIGADA CAIO, a sua visita é sempre muito bemvinda!
EliminarOlá, Helena!
ResponderEliminarNão tinha dado conta que estava de volta, após tão longa ausência. E é um prazer lê-la de novo: nestas incursões por um mundo que visto daqui tem traços de exótico e também de encanto - como se regressássemos atrás no tempo, já que o tempo por essas paragens andou mais lento.De Somerset Maugham, apenas li o Fio da Navalha - e do que li, já não me lembro.Mas imagino que será muito bem ter realizado esse sonho, ter oportunidade de conhecer esse mundo.E obrigado por esta bela reportagem, nos servir de guia; foi um prazer ler.
Um abraço; bom domingo de ramos.
Vitor