sábado, 17 de abril de 2010

QUARTO MINGUANTE - Parte 3

OLÁ  QUERIDA  LUA

Aguardei o anoitecer e esperei naquela praia até a lua chegar.
Precisava encher o meu olhar com a luz
mágica que o iluminou. E chegou, à hora marcada
naquela noite escura, vinha bela, redonda
e toda nua.
Com aquela luz magnética  cor da prata tudo iluminou,
 seus reflexos cobriram as águas escuras do mar e vindo dali  vi então aquele vulto
enorme,  que para mim caminhava devagar.........



 LUA
 "Olá querida lua                                
  O céu é todo teu,
  A terra toda tua
  Depois que o sol morreu.
          
  Reparem, meus senhores,
 Até o próprio mar,
 Já tendo duas cores,
 Pintou-se de luar.

Ah, mostra-me as estrelas
Que a luz do sol esconde.
Vamos, eu quero vê-las,
A noite é que sabe onde.

Lua, onde o sonho habita,
Só tenho um ideal:
Fazer-te uma visita
Em nau espacial.

Para quem nau não tem
Só partindo já morto.
Passando para o além,
Tocarei no teu porto.

Minha pálida jia,
Esse conhecimento
Para a acolhida fria,
Não será no momento.........."

                  
         José Américo De Almeida


Ali fiquei até a noite acabar, vi mais gente a chegar e já o dia começava a raiar quando, já cansada, parti só, mas feliz por ter vivido o mistério da noite, ao lado daquele que foi Homem e Poeta de corpo inteiro.



http://www.museuvirtualjoseamerico.gov.pb.com/
          

sexta-feira, 9 de abril de 2010

QUARTO MINGUANTE - PARTE 2

"UM  SOL  NASCENDO  DAS ÁGUAS"



"Antes de se levantar,
Deu o sol o seu mergulho,
Tomou um banho de mar,
antes de Sol foi marulho,
Ah, benza-o Deus, eis a Aurora
Pingando luz e molhada.
- Fique aqui, não vá embora!
Por toda a praia é chamada"

                 José Americo De Almeida


Esperei então o romper do dia para ver o Sol nascer, saindo daquelas águas cálidas e serenas vinha molhado e pingava, vi surgir os primeiros raios de luz dourada, olhei e fotografei, ouvi  então aquela  voz que me pedia que ali ficasse, já a praia se despia da madrugada.......







 Depois sentei-me. olhei o mar e senti o fresco das ondas que me cobriam, enrolei-me e deixei-me levar no seu vaivém, depois quis saír e ouvi novamente aquela voz que voava com o vento, vinda do infinito.........


MAR  GENEROSO

"Sentei-me. A areia que este mar lavou
 meu leito mais limpo e mais macio.
 Penso nos broncos pescadores ou
 o céu azul, meu cortinado, espio.
Uma onda subiu. Estou molhado.
Subiu e me cobriu todo de espuma.
O céu me viu aí quase afogado,
Porque foi mais, não foi somente uma.
Meu mar extraordinário, mar sem fim,
Quem  foi que disse que eu não sei nadar?
Não fui eu que chamei, viste a mim,
Tudo que pulsa é coração, meu mar.
Deixei o mundo  e vim morar contigo,
Deixei o campo e, afinal,. a praça
Para viver neste teu seio amigo,
Onde tudo que há se dá de graça."

                             José Américo De Almeida





Depois passeei sózinha, pisei aquela areia macia, lavei meus pés nas ondas que corriam pela praia deserta, grandiosa e aberta, andei  até a maré ficar cheia, até não poder mais andar.....


MILAGRE

"Criei meu rastro na areia,
Como flor posta num jarro.   
          
Assim à terra me agarro
Na boca da maré cheia.

Tendo as passadas no meio,
Deixei meu traço marcado
No desenho de um passeio
E jà o encontro apagado.

Uma onda suja e arisca
Lavou o meu pé no chão
como a antiga servidão
Da criadinha Francisca.

Tão firme era meu andar
Que me fui de corpo inteiro,
Como um navio veleiro,
E não pude mais voltar."

         José Américo De Almeida


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sábado, 3 de abril de 2010

QUARTO MINGUANTE

A  REDE

"A rede que me balança                                          
E me levanta no ar
É minha última esperança,
Porque me ensina a voar.

E a deitar-me me convida,
Oferecendo-me um sonho,
Outro mundo, uma outra vida,
Um minuto mais risonho.

Se a casa não dá um pio,
Gritam os dois armadores,
Cantam o seu desafio
Os dois irmãos cantadores.

Como se fosse de  mola,
Vira a rede, se me viro.
E o corpo todo me enrola
E murcha,. se me retiro."

                 José Américo De Almeida


"Homem crescente - leio na imprensa uma comunicação que conforta e eleva o espírito, aos 86 anos de idade o académico José américo De Almeida, no seu retiro da praia de Tambaú, anuincia a publicação de um livro, que será também o seu primeiro livro de poemas.

"QUARTO MINGUANTE" é o nome dessa colectânea de versos que não foram escritos na juventude, nem na idade madura e sim agora, quando para tantos chegam as sombras do anoitecer - grande e maravilhoso exemplo é a vida desse nordestino rijo em sua energia espiritual como na virilidade física. Aprendam os moços com ele, que não há idade que justifique o desencanto e a estagnação. Enquanto houver sopro ele será aproveitado para alimentar o sonho  -prefácio transcrito 
do livro e poemas - transcrito do Jornal do jornal  Comércio Rio de Janeiro 3-7-1975"


Através da Fundação Casa de José Américo tomei conhecimento desta figura ímpar que foi José Américo De Almeida, homem da política, Governador e Ministro, advogado, professor universitário, sociologo brasileiro, romancista, ensaísta e poeta. A Fundação Casa José Américo é uma Instituição Cultural cuja actividade é realizar eventos apoiando autores e artistas Paraíbanos, reedição periódica das  obras de autoria de José Américo ou de autores que tratem de  sua vida e obra, além de disponibilizar ao público uma biblioteca para pesquisas e a sua missão é PRESERVAR, PESQUISAR E DIVULGAR  a vida e obra  de José Américo De almeida e a Cultura Paraíbana para o engrandecimento da sociedade.


Após assistir em João Pessoa, capital da Paraíba,  à cerimónia de  lançamento e abertura do Museu virtual quis conhecer a Casa Museu. Entrei naquela que foi a casa e ultima morada
do escritor, aproximei-me dos seus objectos pessoais, sentei-me no seu sofá predilecto, olhei os seus quadros preferidos, vi a suas roupas e sapatos, vislumbrei o Cabo Branco através da sua varanda virada para o mar e depois parei e toquei nas  franjas da  rede onde se deitava e se balançava, onde tecia as linhas dos seus versos. Depois pareceu-me ouvir a sua voz que me pedia algo.

Corri a comprar seu livro de poemas "Quarto Minguante", li-o e logo me decidi, tinha de, através das minhas imagens, entrar no seu mundo  secreto, revelar os seus íntimos pensamentos, traduzir em imagens aquilo que mais gostava, o mar, as ondas, o céu, a areia, as árvores, os pássaros........Depois saí para a rua, caminhei em direcção à praia deserta e vi os seus passos marcados, seria o seu rastro?? Seria aquela  a mesma areia que o acariciou.......?

MEU RASTRO           
                                                  
"A areia marcou meus pés
Voltei-me contente e vi.
Mar volúvel, por quem és,
Não subas até aqui.

Peço-te:em tua viagem,
Nesse teu  doido vaivém,
Não apagues essa passagem,
Pelo valor que ela tem.

Andar é tudo que faço
Nesta praia, nesta areia,
E depois olhar meu traço.
Até  vir a maré cheia.

Já escrevi minha história,
Já fui trunfo, já fui astro
E hoje minha trajectória
É simplesmente esse rastro".


                José Américo De Almeida

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